Esta é a Benedita. Não me recordo de como foi parar a casa dos meus pais. Descobrimo-la por estes dias numa caixa guardada no sótão. Empoeirada, com o cabelo desalinhado e a roupa corroída. A necessitar de uma segunda vida, a merecer uma existência bem diferente daquela que teve até agora. Com tanto tempo livre por causa do estado de emergência, porque não aproveitar para vasculhar os sótãos, as garagens, as caves, aqueles recantos nos quais acumulamos tudo e mais alguma coisa com a promessa de que um dia tudo será organizado. Porque não ser hoje esse dia? Nunca se sabe o que iremos encontrar.
Decidimos resgatar a Benedita. Livrámo-la das velhas vestimentas, demos-lhe banho e agora a minha mãe está a confeccionar-lhe uma nova indumentária. Cheia de cor. Cheia de vida. Cheia de alegria. Cheia de liberdade. Tendo em conta que a maioria das lojas está fechada, restou-nos aproveitar os restos de linha de algodão que sobraram de outros trabalhos. Deste modo, não só evitamos desperdícios como também colocamos um desafio maior à imaginação para conjugar as cores que temos.
As opções quanto às peças de roupa a executar eram muitas: calção? Calça? Saia? Vestido? Macacão? Camisola? Casaco? De que tipo? De que cor? Decidimo-nos por um vestido rodado, com alças, em croché, em tons verde e amarelo. Alegre. Festivo. Primavil. O resultado é o que está à vista. Mas a indumentária ainda não está completa. Em breve, apresentaremos o trabalho finalizado.